quinta-feira, 1 de maio de 2014

Um livro divertido e profundo sobre o inicio da caminhada do Homo Sapiens - Por que almocei meu pai, Roy Lewis


 
Quando peguei esse livro para ler, possuía uma imagem completamente equivocada a seu respeito. Não que ela fosse pior, ou melhor: apenas diferente.
Eu estava ciente que era um livro de comédia, apesar de se apoiar em dados cientificos, mas não achava que a coisa seria tão profunda: esse livro me lembra O Guia Do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams!!
(Acho que somente este comentário já diz muito a respeito do livro, e espero que os não-fãs de Douglas Adams não deixem de ler essa obra.)
O livro inteiro é narrado em primeira pessoa, pelo personagem Ernest, filho mais velho do líder do bando de subumanos, como eles mesmos se chamam. A narrativa começa explicando como é a vida no Pleistoceno, e todos os perigos e dificuldades pelas quais esses novos humanos estão passando.
Conforme a narrativa segue, é mostrada a evolução do grupo: é descoberto o fogo, o fortalecimento das pontas de sílex das lanças, a descoberta do ‘churrasco’ e assim por diante.
Uma coisa que chama bastante a atenção – e é um dos pontos mais cômicos da obra - é a complexidade dos diálogos entre eles e a constante consciência de que eles precisam se esforçar pra evoluir e dar origem à espécie humana.

[...] -O segredo da indústria moderna está na utilização inteligente dos subprodutos – pontificava, franzindo a testa. Depois se abaixava de surpresa, agarrava uma criança que engatinhava, beijava-a estrepitosamente e gritava para minhas irmãs: - Quando é que vocês vão entender que aos dois anos todos já devem andar? Afirmo que precisamos reverter a tendência instintiva de voltar à locomoção quadrúpede. Caso contrário, todo o nosso esforço se perderá! Cérebro, mãos, tudo! Começamos a caminhar eretos no Miocenom e se acreditam que permitirei que um punhado de moças preguiçosas destruam o esforço de milhões de anos de progresso, estão muito enganadas. [...]

A construção dos indivíduos da horda é bem diferenciada: há o Papai, chefe da horda e gênio inventivo; três viúvas lamentosas; Mamãe, que possui a típica imagem materna e apaziguadora; Tio Vanya, que seria a contraparte de Papai, personagem que esbraveja sobre a antinaturalidade da evolução; os irmãos e irmãs de Ernest e futuramente, as esposas dos mesmos.

[...] -, quando eu a cacei, vc deliberadamente correu com todas as forças, atravessando pântanos e rios, e a mata impenetrável, escalando e descendo montranhas como se fosse um cruzamento de pato com avestruz e cabra..
- Querido, mas que maneira tão meiga de me descrever!

O desenrolar da história acaba sendo completamente diferente do que você pode pensar a princípio – pelo menos foi desse jeito pra mim. -, e o título só é compreendido bem no finzinho do livro.
Sei que a maioria pode não gostar, principalmente pela sátira envolvida. Mas eu adorei! De uma maneira geral, o livro inteiro possui uma escrita direta, divertida e inteligente, fazendo troça ao mesmo tempo que expõe fatos. Gostaria de dizer mais, mas como ele é curto e cada página é recheada de informações, tenho medo de me estender demais e acabar entregando o livro todo pra vocês!
Então, se algum dia você acordar sentindo vontade de uma leitura mais cult, mas que seja leve, super recomendo esse livro!
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Por que almocei meu pai, Roy Lewis
 
Porque almocei meu pai é um livro de caráter cômico e tem como alicerce a teoria do homem-macaco, contradizendo a antiga história bíblica. Baseia-se na busca incessante pela evolução da espécie, onde os personagens têm plena consciência do seu estágio evolutivo.
O enredo tem como principal característica a evolução e a descoberta do fogo, e sua dominação, questão de extrema importância para o progresso da espécie, seja pela confecção de armas e seu aprimoramento, cozimento dos alimentos (facilitando a mastigação e a digestão), refúgio dos predadores, entre outros marcos que o fogo proporcionou. O narrador personagem é Ernest, filho de Edward o chefe da horda, o principal representante do desenvolvimento do homem-macaco, sendo capaz de qualquer coisa para concretizar suas ideologias evolucionistas. Tio Vanya, homem contraditório que defendia a tese da evolução natural, mantendo a idéia retrógrada da volta dos homens-macacos as árvores, contestando e ao mesmo tempo desfrutando das “tecnologias superiores” de seu irmão, Edward.
As mulheres tinham um papel submisso dentro da horda, pois permaneciam na caverna cuidando das crianças menores (porém Edward achava que todas as mulheres tinham por obrigação aprender as tarefas praticadas pelos homens, como o manuseamento do sílex), enquanto Edward e seus filhos, Oswald, Ernest, Wilbur e Alexander saiam para caçar. Cada um deles tinha um talento característico, Alexander, por exemplo, revelou-se o primeiro artista da História quando aprisionou a sombra do Tio Vanya com um desenho, crédulos que ao cativar a alma de um animal estariam facilitando assim a sua caça, foi a partir deste momento que surgiram as representações rupestres. O único que não tinha talento nenhum era Ernest, porém no decorrer da história ele demonstra grande aptidão autoritária, contestando muitas vezes as Inovações Tecnológicas de seu pai Edward.
O livro relata o princípio da exogamia quando Ernest e seus irmãos são obrigados pelo seu pai a se relacionar com outras mulheres de hordas diferentes, para disseminar a evolução entre as espécies (arrebatando suas futuras esposas de suas hordas, simulando um rapto com violência), surgindo a partir desse conceito, o tabu do incesto, relacionamentos entre pessoas da mesma origem consangüínea. É perceptível a influência de Roy Lewis em relação à obra Totem e Tabu de Sigmund Freud.
Ernest passa a contestar Edward por seus exageros idealistas, principalmente quando o mesmo decide propalar suas idéias aos hominídeos, após ter incendiado boa parte da mata que estava ao redor da caverna da sua família, em uma amostra imprudente de como se fazia fogo, que até então era utilizado de conservas naturais (vulcões). Em conseqüência da tragédia em que quase toda horda foi consumida pela conflagração, foram em busca de uma nova cripta, onde foram hostilizados por espécies distintas de hominídeos, impondo lhes restrições, dando início a grandes acontecimentos.
Edward em busca de uma aceleração na evolução das espécies propagou o segredo do fogo, gerando conflitos com toda horda, principalmente com Ernest que foi minuciosamente influenciado por Griselda sua esposa, a cometer o parricídio após ter lhe contado suas teorias filosóficas sobre a conexão dos sonhos com a idéia de morte. O livro se finda com a última e maior invenção feita por Edward, o arco e a flecha, que ironicamente foi o agente de sua morte, intencionalmente ocasionada por seus filhos, o qual acabou como alimento de sua própria horda e com a sutil impressão que tudo fora contado por Ernest a um/alguns filhos seu.
Em comparação com o livro de Enriquez (Da Horda ao Estado), em que o autor exerce profunda análise com a obra de Freud (Totem e Tabu), nota-se a explicita relação social entre pai e filhos, onde, o parricídio é praticado em apatia à arbitrariedade do chefe, como por exemplo, a proibição do incesto, ocasionando a antropofagia que é a obtenção do poder e habilidades adquiridas pelo pai – tem início a fase superior do estado selvagem.
ENRIQUEZ, E. Da Horda ao Estado: Psicanálise do Vínculo Social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

LEWIS, Roy. Porque Almocei Meu Pai. Companhia das Letras, 1993.

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Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
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