sexta-feira, 26 de março de 2010

Bem estar como modo de vida

Uma Conversa com Deepak Chopra

Deepak Chopra foi entrevistado pela conhecida revista norte-americana Magical Blend, que nos concedeu a permissão parra reproduzir o texto. Ele fala sobe seus novos livros e sobe como viver em equilíbrio.

Michael Peter Langevin e Mike Richman publicado na revista Magical Blend (http:/
www.magicalblend.com).

Tradução: PM Agria. Imagem de abertura: Alex Alprim

O Dr. Deepak Chopra é, sem dúvida, uma das figuras mais respeitadas e populares nos campos de bem-estar e desenvolvimento humano.

Fundador e diretor do Chopra Center for Well Being, em La Jolla, California, ele é mundialmente conhecido como professor, palestrante e escritor, autor de mais de 3O1ivros, incluindo Torne-se Mais Jovem, Viva Mais Tempo (Grow Younger, Live Longer). Seu livro mais recente é The Deeper Wound: Recovering the Soulfrom Fear and Suffering (A Ferida Mais Profunda: Recuperando a Alma do Medo e do Sofrimento), publicado pela Harmony Books, que será lançado no Brasil pela Editora Rocco.

Gostamos muito de seu livro, Torne-se Mais Jovem, Viva Mais Tempo. Em sua visão, quais são os hábitos mais importantes que deveríamos cultivar para desenvolver longevidade, saúde e alegria?

Acho que o livro resume realmente tudo isso, mas eu diria que o fator mais importante é saber como controlar o estresse, ter uma experiência de vida que seja fácil, sem esforço, espontânea, não ter ansiedade, e ser alegre. Esse é o hábito mais importante que você pode cultivar como modo de vida.

O estresse é, obviamente, um culpado oculto e importante por trás de muita enfermidade, morte e doença. Como você recomendaria que reduzíssemos nosso nível de estresse, particularmente diante de alguns dos eventos dos últimos meses (os jornalistas referem-se ao atentado de 11 de setembro e suas conseqüências)? 

Obviamente, não existe qualquer fórmula; todas as pessoas têm suas técnicas favoritas. Podemos falar sobre música, meditação, ioga, técnicas respiratórias, relaxamento. A coisa mais importante para se entender é que as pessoas ficam estressadas quando suas necessidades são ameaçadas e que todos nós, como seres humanos, temos necessidades fundamentais tais como a sobrevivência, a segurança, o amor, a necessidade de possuir coisas, a auto-estima e a espiritualidade. Quando as necessidades são ameaçadas - e são ameaçadas, certamente, pela tragédia que aconteceu -, a primeira coisa é que as pessoas sentem-se arranca das do fluxo da vida. Sentem-se isoladas e separadas, e isso acarreta muito medo. Se o ocorrido for muito repentino, o medo levará ao choque, ao torpor e à negação, porque você não quer acreditar que aconteceu.

Segue-se uma fase de vulnerabilidade e desamparo.

Essa é uma oportunidade de fazer contatos, oferecer e procurar ajuda, e de se aproximar realmente de outras pessoas, pois esse estágio de vulnerabilidade e desamparo – se não for enfrentado apropriadamente através da procura e contato com pessoas - levará a ataques de pânico ou ansiedade aguda. Logo, procura-se um escape através da raiva e da hostilidade, pois a raiva serve para dois propósitos: ela lhe dá algo externo para focalizar, em vez de encarar o que está acontecendo no intenor; e também lhe dá uma sensação de controle, ou seja, a pessoa tem alguma coisa para fazer. Logo, a raiva e a hostilidade tornam-se justificativas para mais raiva e hostilidade e, através dessa justificativa, têm-se violência, intolerância e, finalmente, terrorismo, que depois leva a um estado de ansiedade crônica em que cada pequeno estímulo no ambiente provoca ansiedade. E, no final, muito desperdício de energia, depressão e culpa, o que depois perpetua o ciclo de raiva, hostilidade, ansiedade, depressão e culpa.

Essa é a anatomia do medo, sempre que nossas necessidades são ameaçadas. Então, para responder sua pergunta de uma maneira bastante simples, pergunte a si mesmo: "Do que estou precisando agora na área de sobrevivência, segurança, amor, posses, auto-estima e espiritualidade?" Depois, procure cumprir essas necessidades. Essa é a melhor maneira de impedir que seu corpo e mente entrem em entropia.

Como isso funciona no mundo cotidiano?

Existem três componentes em qualquer experiência: há o estímulo externo, uma interpretação interna e uma resposta biológica do corpo.

Então, considerando essas três coisas, podemos dizer que talvez possamos mudar o ambiente e, algumas vezes, isso é possível, outras, não.

Se ficar preso em um engarrafamento lhe causa muito estresse, então você pode mudar o ambiente, pode sair para trabalhar mais cedo, ou ir trabalhar mais tarde, mudar de emprego ou de casa. Então, primeiro você pergunta: "O que posso fazer para mudar o que vejo como uma ameaça para mim e para o ambiente? Como posso mudar o estímulo externo?" A segunda coisa que se pode fazer é dizer: "Muito bem! Não posso mudar o estímulo externo; o que posso fazer para reinventá-lo, para mudar o contexto do estímulo, para entender a oportunidade em seu bojo?" Em outras palavras, como posso fazer uma limonada só tendo limões?

Então, isso é reinventar, reinterpretar, mudar o contexto, e existem muitas maneiras cognitivas e perceptivas de fazer isso. A terceira coisa que se pode fazer é mudar sua resposta biológica.Você não muda o estímulo, não muda o contexto, mas pode mudar sua resposta biológica aprendendo a relaxar seu corpo ou aquietar sua mente. É aí que coisas como treinamento autógeno, reflexologia, relaxamento muscular progressivo, massagem, meditação e técnicas psicofisiológicas assumem um papel importante. Não há qualquer resposta pronta para todo mundo, mas quando você observa uma pessoa, você vê como a vida dela está transcorrendo, e você a ensina a como assumir responsabilidade por suas emoções, como vivenciá-las, identificá-las, exprimi-Ias, liberá-las, compartilhá-las, e como celebrar a experiência de vida sem criar intoxicação emocional e turbulência tóxica em seu sistema de mente-corpo.

Você diria, realmente, que o amor é a resposta definitiva para a maior parte desses problemas que temos entre nós ou com nós mesmos?

Sim, o amor é o oposto de medo e isolamento, mas você sabe que, se está se sentindo ameaçado em suas necessidades, provavelmente, nem mesmo terá tempo para pensar em amor.

Em seu livro, Como Conhecer Deus (How To Know God), você diz que as pessoas têm como escolher a forma pela qual se relacionam com Deus.

Sim, penso que a experiência divina depende do nível da consciência. Nas tradições orientais, esses níveis de consciência freqüentemente são referidos metaforicamente como os sete chakras. Em meu livro, expliquei os mesmos sete níveis de consciência em termos de respostas biológicas, começando com a resposta de luta/fuga, a reativa, a resposta de consciência em repouso, a intuitiva, a criativa, a visionária e, finalmente, a sacra. Então, começamos com níveis de consciência limitados e, na sétima resposta, chegamos a um nível de consciência infinito e desprendido, não-conceituai, inefável, porém experiencial. Assim, o livro é realmente uma versão contemporânea de um dos modos mais antigos de considerar a experiência da divindade.

Em sua própria vida, você é um exemplo para as pessoas devido à extensão, criatividade e produtividade de suas atividades cotidianas.

Bem, eu poderia lhe dizer que é a minha atitude interior que está acontecendo. O oceano se eleva em ondas e, depois, estas descem. Então, o fenômeno ao qual as pessoas se referem quando falam de Deepa Chopra é uma ondulação no oceano da consciência, que vai baixar em algum momento. E, enquanto isso durar, podemos nos divertir.

Como outras pessoas podem seguir seu exemplo, aumentando sua alegria de viver e melhorando a qualidade de sua existência?

Penso que a chave é não ser demasiadamente obstinado com relação às opiniões, não ser dogmático ou defensivo. É importante passar um tempo sozinho, praticar não-fixação ficar quieto, testemunhar mistério da vida que nos circunda em cada momento da nossa existência, enquanto ele acontece espontaneamente.

Quais seriam os maiores empecilhos que ficam no caminho das pessoas que despertam para essas mudanças?

Acho que quanto mais pensamos em nós mesmos maior será o impedimento Quanto mais nos concentra mos em objetivos pessoais gratificação do ego e ambição menos chance haverá de acessarmos os reinos mais profundos da existência. Algumas vezes, em momentos de silêncio, você consegue perceber que não existe uma pessoa; existe somente o universo fingindo ser uma pessoa.

Na procura das pessoas por Deus ao longo dos séculos, elas geralmente se voltavam para a religião. Contudo, o papel da religião na vida das pessoas parece estar mudando radicalmente.

Bem, o papel da religião tem sido etnocentrismo, fanatismo, racismo. ódio, guerra, limpeza étnica, assassinato e estupro. Vamos ser honestos: nenhuma religião pode afirmar ter realmente oferecido salvação para a humanidade. As religiões têm girado ao redor de controle, poder, conquista e dinheiro. Além disso, os fundadores da religião não foram fundadores intencionais. Não acredito que Cristo se considerava um cristão, que Buda se considerava um budista ou que Maomé se considerava um muçulmano. Essas são instituições que se desenvolveram depois, e mesmo tendo oferecido conforto e o senso de comunidade, globalmente elas dividiram mais do que unificaram. Então, à medida que entramos em um mundo, uma economia, uma cultura é uma internet globalizados, penso que também entraremos em uma espiritualidade globalizada.

Você acha que a religião se desenvolveu dessa forma porque tenta captar a verdade e engessá-la?

Ela faz isso. Outra coisa é que a Verdade é tão poderosa, e possui um efeito tão incrível nas vidas das pessoas, que os indivíduos que pensam que são donos dela - ou os que estão próximos daqueles que a forneceram - ficam tentados a usar esse poder para gratificação do ego. A tentação é ficar intoxicado pelo poder que ela lhe confere.

Você diria que o poder intoxicante é a mesma coisa que experimentar o contato com o Universo, ou com Deus?

Não é a mesma coisa, porque o vislumbre do poder real dá origem à tentação de usá-lo. O poder é bom se você não usá-lo para controlar outras pessoas. Penso que as pessoas realmente espirituais não têm qualquer direito ou poder sobre outras e, mesmo assim, são extremamente poderosas.

Muitos de seus livros têm aconselhado pessoas no sentido de viverem vidas mais saudáveis e satisfatórias. Que papel você acha que o corpo exerce no desenvolvimento espiritual das pessoas?

É muito importante. Se seu corpo não estiver saudável, você não irá ter a atenção focalizada para cultivar o estado de consciência que lhe confere uma experiência espiritual. De forma semelhante, se você for pobre e não conseguir se alimentar, não irá pensar em coisa alguma além de suplicar a Deus como um pedinte. Vivekananda, o grande filósofo indiano, costumava dizer que é um insulto falar sobre espiritualidade a alguém que está faminto - primeiro, você tem de alimentá-lo. Os pobres materialmente geralmente são pobres culturalmente, em educação, em consciência ou em espírito. Mas não enxergamos a pobreza como um desequilíbrio no ecossistema, em boa parte na mesma forma que a ostentosa e extravagante exibição de riqueza. Existe algo na exibição de extravagância e riqueza que pode ser vulgar e degradante. Acho que precisamos reconhecer que ambos os extremos são realmente perigosos para nossa evolução.

Como as pessoas podem agir para fazer diferença no estado do planeta?

Pergunte constantemente a si mesmo: "Como posso ajudar? Qual é o meu papel, como posso servir?" E reconheça que há alegria, realização e sucesso tremendos que provêm disso. A chave do sucesso é saber que, quando você não se prende a ele como objetivo propriamente dito, é aí que ele acontece.

Quando escuto alguma de suas fitas ou converso com pessoas que o ouviram falar, você parece ter uma capacidade incrível de fornecer informações, fatos e cifras. Você sente que fez alguma coisa para acentuar a capacidade de funcionamento de seu cérebro ou mente? 

Desde a infância, tenho um apetite voraz por ler e aprender, e faço isso o tempo todo. Também estou sempre escrevendo. Posso estar escrevendo quatro ou cinco livros ao mesmo tempo e, simultaneamente, estar lendo quatro, cinco ou dez livros. Acho que sou um compulsivo-obsessivo!

Parece que você se dá muito bem com isso. Qual você acha ser o melhor conselho que podemos dar aos leitores de nossa revista?

Existem quatro maneiras de entrar em contato com a divindade, que são descritas nas tradições orientais.

Chamam-se os quatro iogas, com ioga significando "união". O primeiro é o karma voga, que significa o ioga de ação. O ensinamento básico é que não importa o que você faça, sempre que agir, sinta que é um instrumento do divino, que cada ação sua, cada respiração sua, é um movimento divino do eterno. Como resultado disso, você nunca tem de se preocupar com as conseqüências, pois sempre estará fazendo a coisa certa. Se você tiver a atitude interior de que é um instrumento para que a inteligência universal se expresse, então isso acontecerá. O segundo é o raja yoga, que é a prática de meditação, oração, solidão, introspecção e contemplação. O terceiro é o bhakti yoga, que é o amor. Faça do amor as relações mais importantes e promissoras, e a atividade mais importante de sua vida. O quarto é o jnana yoga, o cultivo do intelecto. Estude, leia, procure por sinais.- os sinais são o melhor caminho para compreender as leis da natureza, e o que são essas leis se não os pensamentos de Deus?

Quando você fala do divino, você o imagina como uma entidade individual?

Você pode fazer isso se ajudá-lo, mas para mim o divino é a inteligência infinita que se orquestra em tudo, desde uma folha de capim até galáxias e supernovas, buracos negros e todos os universos que continuam se expandindo no infinito, bem como meus pensamentos e sensações mais íntimos.

Você acha que a forma como nossas vidas se desdobram, com todos seus desafios, reveses e desapontamentos, é realmente o universo tentando experimentar ou expandir suas experiências? Que a maneira pela qual nossas vidas se desdobram, com todos os seus reveses, desapontamentos e dificuldades, é o universo experimentando através de cada Indivíduo? 

Acho que, provavelmente, essa é uma boa maneira de ver a questão. O universo não tem significado, inerentemente. Os significados que nós lhe conferimos provêm do contexto, das relações e experiências de nossa própria vida, de forma que o contexto, o significado e a relação ficam entrelaçados. E se você tem a atitude de que as dificuldades e adversidades que experimentamos podem ser oportunidades para crescimento pessoal, então isso caminhará nessa direção. Se você der outra interpretação, então isso levará ao sofrimento. A interpretação depende de nós.

Falando sobre equilíbrio e sustentabilidade, como você definiria a frase "viver em equilíbrio" a partir da perspectiva do indivíduo, bem como da sociedade mundial?

Equilíbrio, em termos médicos, é uma coisa chamada homeostase, que significa que sempre existe uma alça de retroalimentação auto-referida que mantém um estado de não-alteração dinâmica no meio da mudança. Assim, seu nível de açúcar no sangue permanece entre 8O e 12O, seu nível de colesterol permanece entre determinados níveis - em outras palavras, há uma variação de não-alteração no estado de mudança dinâmica. Tanto a mudança quanto a não-alteração são mantidas dinamicamente juntas em homeostase - esse é o estado de equilíbrio, e só pode ser atingido através de uma integração de corpo, mente, espírito e ambiente em uma série contínua. Você começa a ver que o ambiente é uma extensão de seu corpo, que seu corpo é uma extensão de sua mente, que sua mente é uma extensão da consciência e que, no nível mais profundo, você é a consciência que projeta mente, corpo e ambiente. O ambiente em que você se encontra é o que você criou, e assumir responsabilidade, portanto, significa entender a mecânica dessa não-alteração dinâmica no meio da mudança, e é a isso que todas as tradições de conhecimento se referem.

Podemos reprogramar essas dinâmicas e mecanismos?

Não gosto de usar apalavra "programa", pois ela envolve manipulação, e eu não gostaria de manipular o que é natural. Acho que podemos sair da programação que nos faz ficar desequilibrados, que é realmente a hipnose de nosso condicionamento social, cultural e, freqüentemente, religioso.

Juntamente com o livro Torne-se Mais Jovem, Viva Por Mais Tempo, você fez um CD, com o talentoso Dave Stewart, que muitos conhecem da banda Eurythmics. Como isso aconteceu?

Dave freqüenta minhas palestras e se interessa por esse assunto. Freqüentemente, após as palestras, passávamos alguns minutos improvisando diante do público. Sempre houve uma boa resposta, então, um dia dissemos: "Vamos fazer!"

Como você definiria sua prática diária pessoal?

Eu medito cerca de 1 h3O a 2 horas todos os dias, e me exercito cerca de 1h3O a 2 horas. Meu dia começa às 4 horas da manhã, e vou para a cama geralmente por volta de l Oh ou l Oh3O da noite. Exceto quanto a essas duas coisas em que sou bastante regular, tudo mais é muito espontâneo, dependendo do que preciso durante o dia; assim, não fico preso a qualquer resultado.

Seu exercício é predominantemente ioga?

Não. Na verdade, é uma combinação de uma hora de exercícios cardiovasculares e vinte minutos de ioga. Depois, também faço treinamento com pesos.

Finalmente, com referência a dois de seus projetos recentes, se nosso propósito é "conhecer Deus", bem como "nos tornarmos mais jovens e vivermos mais", você acha que se as pessoas conhecessem verdadeiramente Deus, elas iriam querer viver mais? 

Penso que a única razão para viver mais seria usar seu corpo e mente para explorar a consciência. O desejo de viver mais, ou de não prolongar a vida, seria bastante pessoal. Ele se basearia no karma de uma pessoa. Portanto, seria algo bastante individual. A razão principal para viver uma vida longa e saudável é que seu corpo é o veículo para sua consciência, e se você vai entrar nessa rodovia cósmica, bem que você poderia ter uma boa viagem.

Notas:


Revista Sexto Sentido
Número 34
Páginas 12-17

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